terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

FULANO DE TAL

Hoje morreu Fulano de Tal
talvez saia uma nota na página policial.
Alguém sai à procura do seu nome,
outro diz "é menos um vagabundo" e  some.

Fulano de Tal morre ou é morto?
ninguém sabe.
Mas também o que isto importa pra sociedade?
Somos mais um na estatística da morte
um número subtraído no jogo da sorte.

Fulano de Tal sem casa e paletó
Magrão, seu apelido- identidade
mais um lixo na grande cidade,
que a gente ignora ou tem dó.

E assim Fulano Magrão já era
nem lugar pra morrer, quem dera
Talvez objeto para anatomia
o posto que melhor ele ocuparia.

Esta é a contradição
Nem sempre quem trabalha
enche de moeda a mão
dá duro pra um mísero salário
e ainda dá lucro pra otário

Trabalhar pra quê?
Se não leva a nada.
se salário de político
é o maior da bancada...

Fulano de Tal
malandro, vagabundo
um jeca preguiçoso
Sem pouso,
moribundo.

Hoje Fulano de Tal dorme em paz
talvez agora encontre um conforto a mais
pois aqui o inferno é a regra
e o amor, a única coisa que quebra
e eu fico com minha crise moral
pensando em quem seria Fulano de Tal.

(escrito em 16/03/2003 - baseado em fato real)

BILHETE

Quando olhares para o céu,
e não veres uma nuvem,
mas um coração.
Verás que é o meu,
que de tanto amor inchou
e como um pássaro voou.
(escrito em 17/12/1998)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

DOCE SAL

Água doce 
não tem lágrima
molha, limpa,
salva a alma.

Mar é  sal
suor, calma
onda, fúria
farta falta.

Eu sou grão
gelo, brasa,
frágil sonho
dor, mágoa.

JOGO

Fogo,
arde, esfria, seca
Boca,
fala, cospe, cerra
Palavra,
ouve, sente, prega.

PRESSER

Eu tenho pressa:
a pressa pra comer
a pressa pra amar
a pressa pra ter
a pressa pra trabalhar
a pressa pra receber
a pressa pra descansar
a pressa pra sofrer
a pressa pra olhar
a pressa pra saber
a pressa pra viajar
a pressa pra conhecer
a pressa pra dar
a pressa pra acontecer
a pressa  pra sonhar
a pressa pra viver...
Pressa que cessa
que encerra
a própria vontade de viver.

PRIMAVERA

No chão - pontinhos vermelhos
ar de cheiro
época de  flores.

CIDADE

Cheiro de esgoto
vida em tubulação
...a cidade.

CONSTRUÇÃO

Areia, cimento, cal
corpo pinga água salgada
casa em construção.

VERMELHO

Chão manchado
roxo avermelhado
tempo de amora.

SECA

Sol de sertão
bambu espirra água
rugas, vida sofrida.

P


Pisa
Pousa no plano
Pausa
Pensa
no parapeito
Pontua, continua
pintando o ponto
Passo, passando
pelas praças,
pátios, prédios, pessoas...
P, de pé, pés
sempre pisando
pegadas, passado
Pulo, salto, ando
para o presente!

PESSOAS

PÉs
que Soam
como Sino
de Ondas sonoras
voAndo
Sozinhas!

LAÇO

Eu e você:
o múltiplo se torna único,
o único se torna múltiplo.